A forma como vivemos nas cidades e como cuidamos do meio ambiente estão mais ligadas do que imaginamos.
Quando olhamos para essa relação, é impossível ignorar o papel das mulheres nas comunidades. Elas enfrentam desafios únicos nos centros urbanos e, ao mesmo tempo, têm um potencial enorme para construir cidades mais sustentáveis e justas.
As cidades nem sempre são pensadas para as mulheres.
A pesquisa “O corpo feminino na cidade: uma perspectiva geral do debate“, do IPPUR/UFRJ, mostra que a cidade é um lugar de encontros, trabalho e lazer, mas também de lutas.
Terezinha Gonzaga, citada no estudo, define a cidade como um espaço de “fazer social“, onde as pessoas se encontram, celebram, consomem, trabalham, se divertem e lutam. Isso significa que a cidade deve ser um lugar para todos, e não apenas para alguns.
As mulheres precisam se sentir seguras e ter acesso a serviços e oportunidades.
Temos que reconhecer que as questões de gênero e de meio ambiente não são separadas, mas sim intrinsecamente ligadas. Ignorar o papel das mulheres nas discussões e ações sobre sustentabilidade urbana é perder uma perspectiva fundamental e limitar o potencial de soluções eficazes. Ao dar voz e poder às mulheres, abrimos caminho para cidades mais justas, resilientes e ambientalmente responsáveis.
O corpo feminino no espaço urbano
Um estudo da IPPUR de 2004 já apontava para essas questões.
Mais recentemente, um artigo na Revista Ártemis (SILVA; DANTAS; DIMENSTEIN, 2020) também explorou a relação entre mobilidade urbana e gênero, mostrando como a cidade pode ser diferente para homens e mulheres.
Este artigo foca na relação entre mobilidade urbana e gênero.
Ele mostra que a forma como homens e mulheres se movem pela cidade pode ser muito diferente, devido a fatores como a divisão do trabalho doméstico, a responsabilidade pelo cuidado de crianças e idosos, e o medo da violência.
Por exemplo, mulheres podem precisar fazer mais viagens curtas para levar e buscar filhos na escola, ir ao supermercado e realizar outras tarefas, enquanto homens podem fazer viagens mais longas para o trabalho.
Além disso, mulheres podem se sentir mais inseguras ao usar o transporte público ou caminhar pelas ruas à noite, o que limita sua liberdade de movimento.
Desafios e desigualdades
O Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM) 2024, do Ministério das Mulheres, traz dados importantes sobre a situação das mulheres no Brasil.
Ele mostra que, em 2022, a taxa de informalidade entre as mulheres era de 37,9%, um pouco menor que a dos homens (40,6%).
Mas isso não significa que a situação delas seja melhor.
Muitas vezes, as mulheres trabalham em empregos informais e precários, sem direitos e sem proteção social.
Além disso, o relatório revela que a taxa de mortalidade materna ainda é alta: 55 mortes por 100 mil nascidos vivos em 2019.
E a violência contra as mulheres continua sendo um problema grave, com 1.366 casos de feminicídio registrados em 2023. A população carcerária feminina também é alta, com 45.259 mulheres presas.
Esses dados mostram que as mulheres enfrentam muitos desafios e desigualdades no Brasil.
E esses problemas se refletem também nas cidades, onde elas precisam lidar com a falta de segurança, a dificuldade de acesso a serviços e oportunidades, e a discriminação.
A política como ferramenta de mudança

A participação das mulheres na política é outro para mudar essa realidade.
Um artigo no blog da SciELO Humanas discute como as mulheres na política enfrentam tentativas de invalidar suas identidades.
Mas, apesar disso, elas têm um papel importante a desempenhar na construção de cidades mais justas e sustentáveis.
Cida Gonçalves, Ministra das Mulheres, afirmou que, ao assumir o ministério em 2023, se comprometeu a retomar as políticas para as mulheres, com base em dados e informações confiáveis.
Isso mostra a importância de ter mulheres em cargos de poder, para que elas possam defender os direitos e interesses de todas as mulheres.
Empoderamento feminino e cidades sustentáveis

Quando as mulheres têm mais poder e voz na sociedade, elas podem influenciar as políticas públicas e as decisões que afetam a vida de todos.
Elas podem defender o meio ambiente, lutar por cidades mais verdes e inclusivas, e garantir que os direitos de todas as pessoas sejam respeitados.
O RASEAM 2024 usa dados de diversas fontes, como o IBGE, o Inep e o TSE, para mostrar a situação das mulheres no Brasil. Esses dados são importantes para entender os desafios que elas enfrentam e para criar políticas públicas que possam melhorar suas vidas.
O Observatório Brasil da Igualdade de Gênero (OBIG) também é uma ferramenta importante para monitorar e avaliar as políticas de igualdade de gênero no país.
Ao analisar esses dados, fica evidente que as mulheres são mais vulneráveis aos impactos negativos do meio ambiente, como a poluição e as mudanças climáticas.
Elas também são as que mais sofrem com a falta de saneamento básico e com a falta de acesso a serviços de saúde. Por isso, é fundamental que as políticas ambientais levem em conta as necessidades e os direitos das mulheres.
A cidade em movimento: uma análise de gênero na mobilidade urbana
As mulheres têm seu papel a desempenhar na construção de cidades mais sustentáveis.
Elas podem liderar iniciativas de reciclagem, de economia de água e energia, e de promoção do consumo consciente. Elas também podem influenciar as decisões de compra de suas famílias, optando por produtos e serviços mais sustentáveis.
Para que as mulheres possam exercer plenamente seu papel na construção de cidades sustentáveis, é preciso garantir que elas tenham acesso à educação, ao emprego, à saúde e à participação política.
É preciso combater a violência contra as mulheres e garantir que elas se sintam seguras em todos os espaços da cidade.
Também preciso criar políticas públicas que promovam a igualdade de gênero e que valorizem o trabalho e o conhecimento das mulheres.
Em resumo, a relação entre mulheres, cidades e sustentabilidade é complexa e multifacetada. Mulheres enfrentam desafios únicos nos centros urbanos, mas também têm um potencial enorme para construir cidades mais justas, verdes e inclusivas.
Ao empoderar as mulheres e garantir seus direitos, estamos investindo em um futuro mais sustentável para todos.
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