A tecnologia que pode salvar o planeta utilizando a laranja

Uma laranja cortada, revelando que o carvão é a chave para a purificação da água
Uma laranja, símbolo de frescor e vitalidade, revela um lado surpreendente ao ser transformada em carvão

A busca por alternativas sustentáveis para lidar com a poluição da água se intensifica a cada dia.

E se a solução estivesse mais perto do que imaginamos, mais precisamente, nas cascas de laranja que descartamos diariamente?

O biocarvão de laranja surge como uma resposta, unindo ciência e sustentabilidade em uma tecnologia acessível e com potencial para transformar o futuro do nosso planeta.

É bom reconhecer que o biocarvão de laranja não é apenas uma solução técnica, mas um símbolo de como podemos transformar desafios ambientais em oportunidades. Ao valorizarmos resíduos e aplicarmos conhecimento científico, abrimos caminho para um futuro mais sustentável e equitativo.

O que é biocarvão?

O biocarvão é um material rico em carbono produzido a partir da biomassa – nesse caso, o bagaço de laranja – através de um processo chamado pirólise.

Esse processo envolve aquecer a biomassa em altas temperaturas, com pouco ou nenhum oxigênio. O resultado é um material poroso e estável, com uma grande área superficial, o que o torna um excelente adsorvente.

Mas o que isso significa na prática?

Significa que o biocarvão tem a capacidade de “grudar” em diversas substâncias presentes na água, como metais pesados, pesticidas e outros poluentes, removendo-os e tornando a água mais limpa e segura.

A importância do biocarvão vai além da simples purificação da água.

Sua produção e uso contribuem para a redução de gases do efeito estufa, já que o carbono presente na biomassa é “sequestrado” no biocarvão, evitando que seja liberado na atmosfera.

Além disso, o biocarvão pode ser utilizado como fertilizante, melhorando a qualidade do solo e aumentando a produtividade agrícola.

Mas o que é pirólise afinal?

Bagaço de laranja transformado em biocarvão
O bagaço de laranja, antes descartado, ganha nova vida como biocarvão nas indústrias

A pirólise é um processo termoquímico que consiste em aquecer um material orgânico (a biomassa, no caso, o bagaço de laranja) em altas temperaturas, geralmente entre 300°C e 900°C, em um ambiente com pouco ou nenhum oxigênio.

A ausência de oxigênio é crucial para evitar a combustão completa do material, que o transformaria em cinzas.

O que acontece durante a pirólise?

Durante o processo, a biomassa passa por uma série de transformações complexas, quebrando suas moléculas em componentes menores. Esses componentes se dividem em três frações principais:

  • Biocarvão: A fração sólida, rica em carbono, que é o produto principal do processo e o foco da nossa matéria.
  • Bio-óleo: A fração líquida, composta por uma mistura complexa de compostos orgânicos, que pode ser utilizada como combustível ou matéria-prima para a indústria química.
  • Gases: A fração gasosa, composta principalmente por metano, hidrogênio, monóxido de carbono e dióxido de carbono, que pode ser utilizada para gerar energia ou como matéria-prima para a produção de outros produtos químicos.

Como o bagaço se transforma em solução?

O Brasil é um dos maiores produtores de laranja do mundo,ficando no 2 lugar do pódio (Fonte: https://www.bnb.gov.br/s482-dspace/bitstream/123456789/1041/1/2021_CDS_198.pdf). Isso significa que também geramos uma grande quantidade de resíduos, como o bagaço, que muitas vezes é descartado de forma inadequada, gerando problemas ambientais.

Transformar esse resíduo em biocarvão é uma forma inteligente de dar um novo propósito a um material que antes era considerado lixo.

O processo de transformação do bagaço de laranja em biocarvão é relativamente simples. Após a coleta e secagem do bagaço, ele é submetido à pirólise.

O biocarvão resultante pode ser utilizado diretamente na purificação da água ou passar por processos de ativação para aumentar ainda mais sua capacidade de adsorção.

A ciência por trás da purificação: como o biocarvão de laranja funciona?

Biocarvão de laranja com estrutura porosa adsorvendo água
Detalhe da estrutura porosa do biocarvão, fundamental para a purificação da água

A eficácia do biocarvão de laranja na purificação da água está relacionada à sua estrutura porosa e à presença de grupos funcionais em sua superfície. Esses grupos funcionais atuam como “ímãs”, atraindo e retendo os poluentes presentes na água.

Em estudo realizado pela Universidade Federal de Sergipe e publicado na revista “Ambi-Agua” (OLIVEIRA, R. A. Produção de biocarvão de bagaço de laranja para utilização no pós-tratamento de água residuária), pesquisadores investigaram o uso do biocarvão de bagaço de laranja no tratamento de efluentes domésticos para reuso agrícola.

Os resultados mostraram que o biocarvão foi capaz de remover diversos poluentes presentes na água, como matéria orgânica, nitrogênio e fósforo.

Este estudo, apresentado no “Encontro de Recursos Hídricos em Sergipe, 13, 2018″, demonstra o potencial do biocarvão de laranja como uma alternativa sustentável e de baixo custo para o tratamento de água.

Ainda segundo o estudo, a capacidade de adsorção do biocarvão de laranja pode variar dependendo das condições de produção, como a temperatura e o tempo de pirólise. Por isso, é importante otimizar o processo para obter um biocarvão com a maior capacidade de remoção de poluentes possível.

Biocarvão de laranja: um futuro mais limpo e sustentável

O biocarvão de laranja representa uma alternativa promissora para o tratamento de água, unindo a ciência e a sustentabilidade.

Ao transformar um resíduo em solução, essa tecnologia contribui para a redução da poluição da água, a diminuição da emissão de gases do efeito estufa e a promoção de uma economia circular.

É importante ressaltar que o biocarvão de laranja não é uma solução mágica para todos os problemas de poluição da água.

No entanto, ele pode ser uma ferramenta valiosa em um conjunto de estratégias para garantir o acesso à água potável e a preservação do meio ambiente.

O futuro do biocarvão de laranja depende do investimento em pesquisa e desenvolvimento, da criação de políticas públicas que incentivem sua produção e uso, e da conscientização da população sobre seus benefícios.

Ao unirmos esforços, podemos transformar essa tecnologia em uma realidade acessível e com impacto positivo para o planeta.

Fonte:

Fabio Frossard

Fábio Frossard - Comunicador e Editor-Chefe Com 23 anos de carreira em mercado editorial, Fábio combina apuração jornalística rigorosa com paixão pela causa ecológica. Responsável por traduzir relatórios técnicos e pesquisas acadêmicas em reportagens claras e envolventes. No Planeta Azulinho, investiga temas como problemas socioambientais e tecnologias verdes emergentes, sempre buscando histórias reais que ilustrem os desafios e soluções para a crise climática.

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