O problema da poluição plástica nos oceanos é uma bomba-relógio ambiental.
Toneladas de resíduos plásticos são despejadas diariamente, ameaçando a vida marinha, contaminando ecossistemas e até entrando na nossa cadeia alimentar.
Mas, em meio a esse cenário sombrio, surge uma luz de esperança: a descoberta de fungos marinhos capazes de degradar plástico.
É importante entender que a descoberta desses fungos não é uma solução mágica que nos permite relaxar em nossos esforços para reduzir a poluição plástica. Pelo contrário, essa descoberta deve servir como um catalisador para intensificarmos nossas ações.
A pesquisa sobre esses fungos ainda está em seus estágios iniciais, e muito precisa ser aprendido sobre sua eficácia em diferentes ambientes e sua capacidade de lidar com os diversos tipos de plásticos que poluem nossos oceanos.
Além disso, a utilização desses fungos em larga escala pode ter impactos ambientais desconhecidos que precisam ser cuidadosamente avaliados.
Uma luz no fim do túnel de plástico
Um dos fungos marinhos que tem chamado a atenção da comunidade científica é o Parengyodontium album.
Um fungo capaz de degradar o polietileno, um dos tipos de plástico mais prevalentes no mundo, foi identificado por pesquisadores do Instituto Real Holandês de Pesquisa Marinha (NIOZ)
Em um estudo publicado na revista Science of the Total Environment, os pesquisadores demonstraram que o Parengyodontium album consegue “quebrar” resíduos plásticos, convertendo a maior parte do polietileno em dióxido de carbono.
De acordo com Annika Vaksmaa, pesquisadora do NIOZ, “Nossas medições mostraram que o fungo converte a maior parte do polietileno em dióxido de carbono, excretando-o novamente. Embora o CO2 seja um gás de efeito estufa, a quantidade liberada pelos fungos não é suficiente para causar preocupação.”
É importante ressaltar que a degradação do plástico pelo Parengyodontium album depende da exposição à luz UV.
Isso significa que o fungo é mais eficiente em degradar plásticos que já foram expostos à radiação solar, o que é comum em ambientes marinhos.
A degradação lenta, mas contínua

Apesar do potencial promissor, é importante ter em mente que a degradação do plástico pelos fungos marinhos é um processo lento.
Em média, o Parengyodontium album degrada o polietileno a uma taxa de 0,05% ao dia. Isso significa que, em um ano, o fungo consegue degradar apenas 18,25% do plástico.
Essa taxa de degradação pode parecer baixa, mas é importante considerar que a poluição plástica é um problema complexo e multifacetado.
Não existe uma solução única e mágica para resolver o problema. A utilização de fungos marinhos para degradar plástico é apenas uma das ferramentas que podemos utilizar para combater a poluição plástica.
Pesquisadores ao redor do mundo têm se dedicado a encontrar soluções inovadoras para combater a poluição plástica.
E uma das descobertas mais promissoras é a de fungos marinhos com a capacidade de “comer” plástico.
Imagine estações de tratamento de esgoto ou outras instalações onde esses fungos pudessem ser utilizados para degradar o plástico de forma controlada. Ou, quem sabe, a utilização desses fungos em áreas costeiras para limpar praias e manguezais contaminados por plásticos.
A urgência da ação: o tempo está acabando
Apesar da descoberta promissora dos fungos marinhos, a poluição plástica continua a aumentar em ritmo alarmante.
A produção global de plástico ultrapassa os 400 bilhões de quilos por ano, e a previsão é que esse número triplique até 2060.
Se não agirmos agora, a situação só vai piorar.
Os oceanos se tornarão cada vez mais poluídos, a vida marinha será cada vez mais ameaçada e os impactos negativos na nossa saúde e no meio ambiente serão cada vez maiores.
Esses microrganismos, encontrados em diferentes oceanos, demonstraram a capacidade de quebrar as complexas moléculas dos plásticos, transformando-os em substâncias mais simples e menos prejudiciais ao meio ambiente.
A descoberta desses fungos abre um leque de possibilidades para a remediação da poluição plástica.
O que podemos fazer?

A boa notícia é que ainda há tempo para reverter a situação. Mas, para isso, é preciso agir de forma rápida e coordenada.
Algumas medidas que podemos tomar incluem:
- Reduzir o consumo de plástico: Optar por produtos com embalagens reutilizáveis ou biodegradáveis, evitar o uso de sacolas plásticas e canudos descartáveis, e dar preferência a produtos a granel.
- Reciclar o plástico corretamente: Separar o lixo reciclável do lixo orgânico e garantir que o plástico seja encaminhado para a reciclagem.
- Participar de ações de limpeza de praias e rios: Unir forças com outras pessoas para remover o lixo plástico do meio ambiente.
- Apoiar iniciativas de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para combater a poluição plástica: Incentivar a pesquisa de novas formas de degradar o plástico, como a utilização de fungos marinhos.
- Cobrar ações dos governos e empresas: Exigir que os governos implementem políticas públicas para reduzir a produção e o consumo de plástico, e que as empresas invistam em embalagens mais sustentáveis.
Fungos em estações de tratamento: uma possibilidade real?
Hans-Peter Grossart, chefe do grupo de pesquisa do Instituto Leibniz, levanta uma questão interessante sobre a utilização desses fungos em estações de tratamento de esgoto ou outras instalações controladas.
Essa abordagem permitiria otimizar as condições para a degradação do plástico, como temperatura, pH e disponibilidade de nutrientes.
No entanto, Grossart também ressalta que, apesar do potencial promissor, ainda é improvável que essa solução possa conter os resíduos plásticos de forma global.
A quantidade de plástico que chega aos oceanos é tão grande que seria difícil para os fungos darem conta de todo o volume.
Microfungos no lago Stechlin: uma adaptação surpreendente
Uma pesquisa realizada por cientistas alemães no Lago Stechlin revelou que alguns microfungos são capazes de crescer em plásticos sem a necessidade de outra fonte de carbono para se alimentar.
Essa descoberta demonstra a capacidade de adaptação desses microrganismos a ambientes poluídos.
Os pesquisadores identificaram quatro tipos de fungos que se destacaram por sua eficiência em utilizar plástico como alimento, especialmente o poliuretano.
O futuro da luta contra a poluição plástica
A descoberta dos fungos marinhos que degradam plástico é uma notícia animadora em meio ao cenário preocupante da poluição plástica.
Esses microrganismos representam uma ferramenta promissora para combater a poluição plástica, mas é importante ter em mente que eles não são a solução mágica para o problema.
A luta contra a poluição plástica exige um esforço conjunto de todos os setores da sociedade.
Precisamos reduzir o consumo de plástico, reciclar corretamente, apoiar iniciativas de pesquisa e cobrar ações dos governos e empresas.
Portanto, enquanto celebramos essa descoberta promissora, devemos redobrar nossos esforços para reduzir o consumo de plástico, reciclar corretamente e apoiar políticas públicas que promovam a sustentabilidade.
Se agirmos agora, ainda há tempo para reverter a situação e garantir um futuro mais limpo e saudável para os nossos oceanos.
Fontes: