O que esperar quando uma universidade federal decide olhar para o campo, não apenas como objeto de estudo, mas como fonte de alimento e transformação social?
A Universidade Federal de Alagoas (UFAL) está mostrando que a resposta pode ser surpreendentemente positiva.
Com uma chamada pública recém-lançada, a instituição busca parcerias com cooperativas de produtores locais, abrindo um novo capítulo na relação entre academia, agricultura familiar e sustentabilidade.
Mas, o que isso realmente significa para o estado de Alagoas e para o Brasil?
Um Chamado à Colaboração: a iniciativa da UFAL

No dia 21 de fevereiro de 2025, a UFAL lançou uma chamada pública que pode ser um divisor de águas para a agricultura familiar em Alagoas.
A proposta é simples: estabelecer parcerias com cooperativas de produtores locais para o fornecimento de alimentos à universidade.
A iniciativa, que está sendo apresentada em audiências públicas em diferentes campi da UFAL, visa não apenas garantir alimentos de qualidade para a comunidade acadêmica, mas também fomentar a produção local e sustentável.
As audiências públicas, que acontecem em Arapiraca (17 de março), Maceió (19 de março), Viçosa (20 de março) e Delmiro Gouveia (21 de março), são uma oportunidade para que cooperativas e agricultores familiares conheçam os detalhes do processo e tirem suas dúvidas. (Fonte: UFAL CRONOGRAMA)
A expectativa é que a parceria gere um ciclo virtuoso, beneficiando tanto a universidade quanto os produtores.
A iniciativa da UFAL não é apenas uma ação isolada; é um reflexo de um movimento global crescente que reconhece a importância da agricultura familiar para a segurança alimentar, a sustentabilidade e o desenvolvimento econômico local. Ao conectar a produção local com o consumo institucional, a universidade está criando um modelo que pode ser replicado em todo o país, fortalecendo a economia, promovendo a saúde e protegendo o meio ambiente.
Agricultura Familiar: a base de um futuro sustentável
A agricultura familiar é muito mais do que um modelo de produção.
É a base da segurança alimentar de muitas comunidades e um pilar fundamental para a construção de um futuro mais sustentável.
No Brasil, a agricultura familiar é responsável por uma parcela significativa da produção de alimentos, e sua importância é reconhecida em diversas políticas públicas.
A Embrapa, por exemplo, destaca a relevância da Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Pnater), instituída em 2010 com a Lei 12.188/2010. Essa política visa promover o desenvolvimento rural sustentável por meio da oferta de serviços de assistência técnica e extensão rural aos agricultores familiares.
Além da Pnater, a Embrapa ressalta a importância de programas como o Seguro da Agricultura Familiar (SEAF) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF), que oferecem apoio financeiro e proteção aos produtores.
Essas políticas públicas são essenciais para garantir que a agricultura familiar continue a desempenhar seu papel crucial na produção de alimentos e na preservação do meio ambiente. Mas, como a iniciativa da UFAL se encaixa nesse contexto?
Alinhamento com as tendências nacionais e internacionais

A chamada pública da UFAL não é apenas uma iniciativa local; ela está em sintonia com as tendências nacionais e internacionais de valorização da agricultura familiar e da produção sustentável.
Ao buscar parcerias com cooperativas locais, a universidade está seguindo o exemplo de outras instituições e estados que também estão investindo em projetos semelhantes.
Um exemplo é o estado de Roraima, onde a Fundação de Amparo à Pesquisa (Faperr) lançou, em 21 de janeiro de 2025, a Chamada Agroambiental.
Essa iniciativa visa selecionar projetos que proponham soluções inovadoras para a agricultura familiar e indígena, abrangendo áreas como manejo do solo, segurança alimentar, manejo de pastagens e saúde animal.
Os projetos devem estar alinhados ao Plano Roraima 2030, que busca promover o desenvolvimento sustentável do estado.
Como bem disse Beethoven Barbosa, Diretor Administrativo da Faperr, “O ambiente não é uma ameaça, o meio ambiente está ao nosso favor e nós seres humanos precisamos aprender a conviver com a natureza, respeitá-la e fazer as nossas produções agrícolas que são necessárias à sobrevivência, da melhor forma possível. E é baseado em pesquisa, em inovação, gerando conhecimento local que vamos implementar melhor e ter menos riscos na produção do estado de Roraima”. (Fonte: https://faperr.rr.gov.br/pesquisa-cientifica-e-estrategia-para-fortalecer-a-agricultura-familiar-e-indigena-em-roraima/)
Essa visão de que a agricultura e a preservação ambiental podem caminhar juntas é fundamental para o futuro do planeta.
E a iniciativa da UFAL, ao buscar alimentos produzidos de forma sustentável, está contribuindo para essa mudança de paradigma.
Desafios e oportunidades: o caminho a seguir
Apesar dos avanços, a agricultura familiar no Brasil ainda enfrenta muitos desafios.
O acesso à tecnologia, ao crédito e à assistência técnica são alguns dos obstáculos que precisam ser superados.
Além disso, é preciso combater o uso indiscriminado de agrotóxicos e promover práticas agrícolas que preservem os recursos naturais.
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) reconhece que a agricultura brasileira é avançada e pioneira no uso de tecnologias, mas também aponta a necessidade de mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento para garantir a sustentabilidade do setor.
A iniciativa da UFAL, ao estimular a produção local e sustentável, pode ser um passo importante nessa direção.
A chamada pública da UFAL pode ter um impacto significativo em Alagoas, impulsionando a economia local, gerando renda para os agricultores familiares e melhorando a qualidade da alimentação na universidade.
Mas, além disso, a iniciativa pode servir de exemplo para outras instituições e estados, mostrando que é possível construir um futuro mais sustentável por meio da valorização da agricultura familiar.
Será que Alagoas pode se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável, inspirando outras regiões do Brasil?
A resposta pode estar nas mãos dos agricultores familiares, das cooperativas, da UFAL e de todos aqueles que acreditam em um futuro mais verde e justo.
Fontes: