Cultivo sem solo: uma técnica verde que pode alimentar o futuro

Estufa de cultivo sem solo com tomate cereja
Um molho de tomate cereja pendurado. Sistema de cultivo sem solo sendo monitorado

O cultivo sem solo, também conhecido como hidroponia, aeroponia ou outras variações, emerge como uma solução promissora para os desafios da produção de alimentos em um mundo com recursos cada vez mais limitados.

Essa técnica inovadora, que dispensa o uso do solo, oferece uma série de vantagens em relação à agricultura tradicional, como o uso mais eficiente da água, a redução do consumo de pesticidas e fertilizantes, e a possibilidade de produzir alimentos em áreas urbanas ou em regiões com solos inadequados para o cultivo.

A adoção do cultivo sem solo não é apenas uma questão de inovação tecnológica, mas sim uma necessidade urgente para garantir a segurança alimentar e a sustentabilidade ambiental em um mundo em transformação.  Ao investirmos em pesquisa, desenvolvimento e implementação de técnicas de cultivo sem solo, estamos construindo um futuro mais resiliente e equitativo para todos.

A eficiência hídrica do cultivo sem solo

Uma das principais vantagens do cultivo sem solo é a sua eficiência hídrica.

​Em comparação com a agricultura tradicional, que frequentemente utiliza grandes quantidades de água, das quais uma parcela substancial é desperdiçada por evaporação, infiltração no solo e escoamento superficial, o cultivo sem solo permite um controle preciso da quantidade de água utilizada pelas plantas.

Em sistemas hidropônicos, por exemplo, a água é recirculada e reutilizada continuamente, havendo perdas apenas por evaporação mínima.

Essa característica é especialmente relevante em um contexto de crescente escassez de água em muitas regiões do mundo, tornando-se particularmente vantajosa em regiões áridas ou com escassez hídrica.

Com o aumento da população e as mudanças climáticas, a demanda por água para a produção de alimentos tende a aumentar, o que pode gerar conflitos e comprometer a segurança alimentar. A hidroponia, ao fornecer nutrição precisa e controlada diretamente às raízes, evita grande parte desses impactos negativos.

O cultivo sem solo, ao reduzir o consumo de água, contribui para a preservação desse recurso vital e para a sustentabilidade da produção de alimentos, tornando-se uma técnica reconhecidamente econômica em termos hídricos.

A pesquisa da Embrapa e o cultivo de tomate cereja em casca de coco

 Estufa de cultivo sem solo com tomate cereja e pesquisador da Embrapa
Pesquisador da Embrapa monitora o crescimento de tomate cereja em estufa com sistema de cultivo sem solo, utilizando casca do coco

 

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem realizado importantes pesquisas sobre o cultivo sem solo, buscando desenvolver técnicas e tecnologias que tornem essa prática mais eficiente e sustentável.

Os resultados da pesquisa foram promissores, demonstrando que o cultivo de tomate cereja em casca de coco pode gerar produtividades superiores às obtidas em sistemas de cultivo tradicionais.

De acordo com a Embrapa, os produtores locais alcançaram, nos experimentos, 80 toneladas de tomate-cereja por hectare, uma produtividade 33% maior do que a obtida em campo aberto (60 toneladas por hectare).

A pesquisa da Embrapa também destaca a importância do cultivo protegido, ou seja, do uso de estufas ou outras estruturas para proteger as plantas das condições climáticas adversas.

O cultivo protegido permite um maior controle do ambiente, o que favorece o desenvolvimento das plantas e aumenta a produtividade.

De acordo com Fábio Miranda, pesquisador da Embrapa, a adoção do cultivo protegido em substrato pode resultar em produtividades ainda maiores do que a observada nos testes na Serra de Ibiapaba.

Essa afirmação reforça o potencial do cultivo sem solo para impulsionar a produção de alimentos de forma sustentável.

Diferença entre hidroponia e cultivo na terra

A principal diferença entre hidroponia e cultivo em terra está no meio de cultivo e na forma como as plantas recebem os nutrientes.

Hidroponia:

  • As plantas crescem sem solo, utilizando uma solução nutritiva com água e sais minerais.
  • O sistema pode ser fechado, economizando até **90% de água** em comparação com o cultivo tradicional.
  • O crescimento das plantas costuma ser mais rápido, pois os nutrientes são entregues diretamente às raízes.
  • Menos exposição a pragas e doenças do solo, reduzindo o uso de agrotóxicos.
  • Necessita um controle rigoroso de pH, temperatura e nutrientes.

Cultivo em Terra

  • As plantas absorvem os nutrientes diretamente do solo, que também fornece suporte físico.
  •  Depende da qualidade da terra, podendo necessitar de adubação e correções.
  • Maior necessidade de água e maior risco de erosão e desperdício.
  •  Mais suscetível a pragas, doenças e variações climáticas.
  •  Mais acessível e tradicional, sem necessidade de infraestrutura especializada.

A hidroponia é mais eficiente no uso de recursos e no controle de qualidade, mas exige investimento inicial maior e conhecimento técnico. O cultivo em terra é mais natural e de menor custo inicial, mas depende das condições do solo e do clima.

Redução do uso de pesticidas e fertilizantes

Outra vantagem importante do cultivo sem solo é a redução do uso de pesticidas e fertilizantes.

Em sistemas hidropônicos, as plantas são cultivadas em ambientes controlados, o que diminui a incidência de pragas e doenças.

Além disso, a nutrição das plantas é feita de forma precisa, com a aplicação de soluções nutritivas balanceadas que atendem às suas necessidades específicas.

Essa abordagem minimiza a necessidade de pesticidas e fertilizantes, que podem ter impactos negativos no meio ambiente e na saúde humana.

Os pesticidas, por exemplo, podem contaminar o solo, a água e o ar, além de afetar a biodiversidade e a saúde dos trabalhadores rurais.

Os fertilizantes, por sua vez, podem causar a eutrofização de rios e lagos, um processo que leva à proliferação de algas e à morte de peixes e outros organismos aquáticos.

Produção de alimentos em áreas urbanas

O cultivo sem solo também oferece a possibilidade de produzir alimentos em áreas urbanas, onde a disponibilidade de terras agrícolas é limitada.

Em cidades como São Paulo, Nova York ou Tóquio, por exemplo, é possível instalar sistemas hidropônicos em telhados, varandas, garagens ou outros espaços ociosos, produzindo alimentos frescos e saudáveis para a população local.

Essa abordagem contribui para a segurança alimentar das cidades, reduzindo a dependência de alimentos produzidos em áreas rurais distantes e diminuindo os custos de transporte e armazenamento.

Além disso, o cultivo sem solo em áreas urbanas pode gerar empregos e renda para a população local, fortalecer a economia e promover a integração social.

Saiba como instalar um sistema aeroponico em casa ou em escala comercial

Cultivo vertical em contêiner com iluminação LED
Sistema de cultivo vertical em contêiner, com iluminação LED, para produção de hortaliças e ervas em espaços reduzidos
  1. Escolha do Local: O local deve ser bem ventilado e ter acesso à luz solar ou iluminação artificial adequada.
  1. Sistema de Suporte: Adquira ou construa um sistema de suporte para as plantas, que mantenha as raízes suspensas.
  1. Sistema de Pulverização: Instale um sistema de pulverização que distribua a névoa nutritiva de forma uniforme.
  1. Solução Nutritiva: Garanta que a solução nutritiva contenha todos os minerais essenciais para o crescimento das plantas.
  1. Monitoramento: Monitore regularmente o sistema para ajustar a frequência de pulverização e a composição da solução nutritiva.

O futuro da produção de alimentos

O cultivo sem solo representa uma mudança de paradigma na produção de alimentos, oferecendo uma alternativa mais eficiente, sustentável e resiliente em relação à agricultura tradicional.

Com o aumento da população mundial e as mudanças climáticas, a demanda por alimentos tende a crescer, o que exige a busca por novas soluções que garantam a segurança alimentar e a preservação do meio ambiente.

O cultivo sem solo, com suas diversas vantagens e aplicações, surge como uma dessas soluções, permitindo produzir mais alimentos com menos recursos e em áreas onde a agricultura tradicional é inviável.

Ao investir em pesquisa, desenvolvimento e inovação nessa área, podemos construir um futuro mais sustentável e garantir que todos tenham acesso a alimentos saudáveis e nutritivos.

Fabio Frossard

Fábio Frossard - Comunicador e Editor-Chefe Com 23 anos de carreira em mercado editorial, Fábio combina apuração jornalística rigorosa com paixão pela causa ecológica. Responsável por traduzir relatórios técnicos e pesquisas acadêmicas em reportagens claras e envolventes. No Planeta Azulinho, investiga temas como problemas socioambientais e tecnologias verdes emergentes, sempre buscando histórias reais que ilustrem os desafios e soluções para a crise climática.

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